Cardeal Parolin recorda Paulo VI: amor pela Igreja e pela humanidade
Se
a Igreja “tem consciência daquilo que o Senhor quer que Ela seja, surge n’ela
uma singular plenitude e uma necessidade de efusão, com a clara percepção de
uma missão que a transcende, de um anúncio a ser difundido”.
Foi o que disse – citando a encíclica Ecclesiam suam de Paulo VI –
o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, na homilia da celebração da
primeira memória litúrgica do Papa Giovanni Battista Montini, beatificado em 19
de outubro de 2014.
Ao término da celebração, oficiada na tarde de segunda-feira na
Basílica de São Pedro, o purpurado desceu à cripta vaticana para, num gesto de
homenagem, visitar o túmulo de Paulo VI. Em 26 de outubro próximo também a
Diocese de Brescia (terra natal de Paulo VI) o recordará com uma celebração
eucarística presidida pelo bispo Luciano Monari no Santuário de Nossa Senhora
das Graças.
O Cardeal Parolin recordou a delicada atenção do Papa Paulo VI
pelas periferias existenciais em todas as latitudes do planeta, o gesto da
renúncia e da oferta da tiara, conservada na cripta do Santuário Nacional da
Imaculada Conceição em Washington (EUA), onde o Papa Francisco celebrou na
semana passada; “a sua capacidade de dar voz aos últimos e aos que se encontram
distantes e o chamado em seu testamento espiritual a uma Igreja pobre,
despojada; a sua atenção pela família e a paternidade e maternidade
responsáveis”.
Uma mensagem preciosa, dirigida “à humanidade empobrecida do nosso
tempo, tão necessitada de sentido”: por sua natureza, a Igreja é missionária,
num certo sentido não pode deixar de sê-lo.
Junto aos temas mais estritamente eclesiais inspirados pelo
Evangelho de Cristo, naqueles anos marcados pela contraposição Leste-Oeste, o
Papa Montini se prodigalizou ativamente pela salvaguarda da paz.
De retorno da viagem apostólica do Papa Francisco a Cuba e EUA e
da visita à sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, o Cardeal Parolin relê o
discurso pronunciado por Paulo VI na sede da Onu em 1965.
Naquela ocasião, o Papa Montini fez ressoar o célebre grito “Nunca
mais a guerra, nunca mais a guerra!” e fez suas as palavras pronunciadas por
John F. Kennedy no momento de assumir o encargo de presidente: “A humanidade
deve acabar com a guerra, ou a guerra acabará com a humanidade”.
Concluindo seu discurso nas Nações Unidas (1965) e na sua
encíclica Populorum Progresssio (1967), Montini dizia à humanidade inteira que
“devemos nos acostumar a pensar o homem de modo novo; de maneira nova a
convivência da humanidade, de modo novo os caminhos da história e os destinos
do mundo segundo as palavras de São Paulo: revestir o homem novo criado à
imagem de Deus na justiça e santidade da verdade (…).
“Nunca, como hoje, numa época de tanto progresso humano, foi
necessário o apelo à consciência moral do homem”, disse o Papa Paulo VI no
referido discurso na ONU.
As preocupações do Beato Paulo VI, constatou com pesar o Cardeal
Parolin, infelizmente, permanecem atuais também no cenário atual, caracterizado
pelos cruéis conflitos armados – a terceira guerra mundial combatida em capítulos,
como a definiu o Papa Francisco – e onde os direitos humanos, em primeiro
lugar, o direito à vida e à liberdade religiosa, são sistematicamente ameaçados
e espezinhados.
“O Papa Montini teve sempre em seu coração dois grandes amores:
amor pela Igreja e amor pela humanidade. Essa é a sua herança”, destacou o
secretário de Estado.
O Papa Francisco, na continuidade daquilo que Paulo VI auspiciava,
pede-nos que abandonemos uma espiritualidade mundana e sejamos testemunhas
alegres de uma “Igreja em saída”, para oferecer a todos Jesus Cristo, no
respeito pelas várias culturas que fazem da Igreja um povo de muitos rostos,
que, na sua diversidade, não ameaçam, mas enriquecem a sua unidade.
“Na vigília do Sínodo dos Bispos sobre a família – concluiu o
Cardeal Parolin – parece-me poder colher no Magistério do Beato Paulo VI uma
atenção profética pela humanidade, com particular atenção à família, ao
matrimônio e aos próprios cônjuges, homem e mulher”.
Por
Rádio Vaticano