Em seu primeiro dia de atividades em terras polonesas, após a
cerimônia de boas vindas no aeroporto, Francisco pronunciou um discurso no Castelo
de Wawel, onde teve um encontro com as autoridades civis e religiosas e o Corpo
Diplomático.
“É a primeira vez que visito a Europa
Centro-Oriental e fico feliz por começar da Polônia, que, entre os seus filhos,
nos deu o inesquecível São João Paulo II, idealizador e promotor das Jornadas
Mundiais da Juventude. Ele gostava de falar da Europa que ‘respira com seus
dois pulmões’.”
“Na vida de cada dia dos indivíduos e da sociedade,
há dois tipos de memória: a ‘boa e a má’, a ‘positiva e a negativa’. A ‘memória
boa’ é mostrada pela Bíblia no Magnificat, o Cântico de Maria, que louva o
Senhor e a sua obra de salvação. Mas, a ‘memória negativa’ é a que fixa, com
obsessão, o olhar da mente e do coração no mal cometido pelos outros”.
“Assim a nobre nação polonesa mostra como se pode
desenvolver a ‘memória boa’ e rejeitar a ‘má’. Por isso, são necessárias uma
esperança e uma confiança firmes em quem guia o destino dos povos, abre as
portas fechadas, transforma as dificuldades em oportunidades e cria novos cenários
até mesmo impossíveis”.
O Papa concluiu seu discurso pedindo ao governo
polonês políticas sociais apropriadas para a família, sobretudo as mais frágeis
e pobres, e para a vida, que deve ser acolhida e protegida. “Que Nossa Senhora
de Częstochowa abençoe e proteja a Polônia!”
Por fim, o Pontífice se transferiu à vizinha
Catedral de Cracóvia, para um encontro com os Bispos da Polônia.
***
Senhor Presidente,
Distintas Autoridades
Ilustres Membros do Corpo Diplomático,
Magníficos Reitores,
Senhoras e Senhores!
Com deferência, saúdo o Senhor Presidente e agradeço
o seu acolhimento generoso e as palavras amáveis. Sinto-me feliz por poder
saudar os ilustres membros do Governo e do Parlamento, os Reitores das
universidades, as Autoridades regionais e municipais, bem como os membros do
Corpo Diplomático e as outras Autoridades presentes. É a primeira vez que
visito a Europa Centro-Oriental e estou contente por começar da Polónia, que,
entre os seus filhos, conta o inesquecível São João Paulo
II, idealizador e promotor das Jornadas Mundiais da Juventude.
Ele gostava de falar da Europa que respira com os seus dois pulmões: o sonho
dum novo humanismo europeu é animado pela respiração criativa e harmónica
destes dois pulmões e pela civilização comum que tem no cristianismo as suas
raízes mais sólidas.
A memória carateriza o povo polaco. Sempre me
impressionou o sentido vivo da história do Papa João Paulo
II. Quando falava dos povos, partia da sua história procurando
fazer ressaltar os seus tesouros de humanidade e espiritualidade. A consciência
da identidade, livre de complexos de superioridade, é indispensável para
organizar uma comunidade nacional com base no seu património humano, social,
político, económico e religioso, para inspirar a sociedade e a cultura,
mantendo-as simultaneamente fiéis à tradição e abertas à renovação e ao futuro.
Foi nesta perspetiva que celebrastes, recentemente, os mil e cinquenta anos do
Batismo da Polónia. Foi certamente um momento forte de unidade nacional, que
confirmou como a concórdia, mesmo na diversidade das opiniões, é a estrada
segura para se alcançar o bem comum de todo o povo polaco.
E uma profícua cooperação internacional e a mútua
consideração maturam através da consciência e do respeito pela identidade
própria e alheia. Não pode haver diálogo, se cada qual não parte da sua própria
identidade. Mas, na vida diária de cada indivíduo e também de cada sociedade,
há dois tipos de memória: a boa e a má, a positiva e a negativa. A memória boa
é aquela que a Bíblia nos mostra noMagnificat, o cântico de Maria, que
louva o Senhor e a sua obra de salvação. Ao contrário, a memória negativa é
aquela que mantém o olhar da mente e do coração obsessivamente fixo no mal, a
começar pelo mal cometido pelos outros. Vendo a vossa história recente,
agradeço a Deus porque soubestes fazer prevalecer a memória boa, celebrando,
por exemplo, os cinquenta anos do perdão, mutuamente oferecido e recebido,
entre os episcopados polaco e alemão, depois da II Guerra Mundial. Apesar de a
iniciativa envolver inicialmente apenas as comunidades eclesiais, todavia
desencadeou um processo social, político, cultural e religioso irreversível,
mudando a história das relações entre os dois povos. E, na mesma linha,
recordamos também a Declaração Conjunta entre a Igreja Católica da Polónia e a
Igreja Ortodoxa de Moscovo: um ato que deu início a um processo de aproximação
e fraternidade não apenas entre as duas Igrejas, mas também entre os dois
povos.
Assim a nobre nação polaca mostra como se pode fazer
crescer a memória boa e deixar para trás a má. Para isso, requer-se uma
esperança e confiança firmes n’Aquele que guia os destinos dos povos, abre
portas fechadas, transforma as dificuldades em oportunidades e cria novos
cenários onde parecia impossível. Disto mesmo dão testemunho as vicissitudes
históricas da Polónia: depois das tempestades e das trevas, o vosso povo, restabelecido
na sua dignidade, pôde cantar, como os judeus no regresso de Babilónia:
«Parecia-nos viver um sonho. A nossa boca encheu-se de sorrisos e a nossa
língua de canções» (Sal 126/125,
1-2). A consciência do caminho feito e a alegria pelas metas alcançadas dão
força e serenidade para se enfrentar os desafios atuais, que requerem a coragem
da verdade e um compromisso ético constante, a fim de que os processos
decisórios e operativos, bem como as relações humanas sejam sempre respeitosos
da dignidade da pessoa. E, com isto, está relacionada toda a atividade,
incluindo a economia, a relação com o meio ambiente e a própria forma de gerir
o complexo fenómeno migratório.
Este último exige um suplemento de sabedoria e
misericórdia, para superar os medos e produzir um bem maior. É preciso
identificar as causas da emigração da Polónia, facilitando o regresso de
quantos o queiram fazer. Simultaneamente é precisa a disponibilidade para
acolher as pessoas que fogem das guerras e da fome; a solidariedade para com aqueles
que estão privados dos seus direitos fundamentais, designadamente o de
professar com liberdade e segurança a sua fé. Ao mesmo tempo, devem ser
estimuladas colaborações e sinergias a nível internacional a fim de se
encontrar soluções para os conflitos e as guerras, que forçam tantas pessoas a
deixar as suas casas e a sua pátria. Trata-se, pois, de fazer o possível para
aliviar os seus sofrimentos, sem se cansar de trabalhar com inteligência e
ininterruptamente pela justiça e a paz, testemunhando com os factos os valores
humanos e cristãos.
À luz da sua história milenária, convido a nação
polaca a olhar com esperança o futuro e as questões que tem de enfrentar. Esta
atitude favorece um clima de respeito entre todas as componentes da sociedade e
um diálogo construtivo entre as diferentes posições; além disso cria as
melhores condições para um crescimento civil, económico e até demográfico,
alentando a confiança de oferecer uma vida boa aos próprios filhos. Com efeito,
estes não deverão apenas enfrentar problemas, mas poderão usufruir da beleza da
criação, do bem que soubermos fazer e difundir, da esperança que lhes soubermos
dar. Assim as próprias políticas sociais a favor da família – núcleo primário e
fundamental da sociedade –, que visam socorrer as mais frágeis e pobres e
apoiá-las no acolhimento responsável da vida, serão ainda mais eficazes. A vida
deve ser sempre acolhida e protegida – as duas coisas juntas: acolhida e
protegida – desde a conceção até à morte natural, e todos somos chamados a
respeitá-la e cuidar dela. Por outro lado, compete ao Estado, à Igreja e à
sociedade acompanhar e ajudar concretamente quem está em situação de grave
dificuldade, para que o filho não seja jamais sentido como um fardo mas como um
dom, e as pessoas mais frágeis e pobres não se vejam abandonadas.
Senhor Presidente, a nação polaca pode – como
sucedeu em todo o seu longo percurso histórico – contar com a colaboração da
Igreja Católica, para que, à luz dos princípios cristãos que a inspiram e que
forjaram a história e a identidade da Polónia, saiba nas novas condições
históricas avançar no seu caminho, fiel às suas melhores tradições e repleta de
confiança e esperança, mesmo nos momentos difíceis.
Ao mesmo tempo que lhe renovo a expressão da minha
gratidão, desejo ao Senhor Presidente e a cada um dos presentes um sereno e
frutuoso serviço ao bem comum.
Nossa Senhora de Częstochowa abençoe e proteja a
Polónia!
Fonte: Zenit