Rosto paterno
É difícil falar de Deus na nossa linguagem humana. Mas, chamar a
Deus de Pai, foi o próprio Filho, mandado por Ele, com forma ou natureza
humana, que nos ensinou a chamá-lo assim. Apesar disso, temos também, na figura
feminina, o modo humano de chamarmos e termos as qualidades divinas também
maternas.
Deus é superior à nossa modalidade de nos
relacionarmos com Ele. Mas, em nossos limites, apesar de filhos, por dádiva de
filiação adotiva, temos na figura do pai uma relevância muito importante na
formação da família. Muitos querem, dentro do naturalismo, relativizar de modo
excessivo, a importância do pai. No entanto, seu papel é intimamente exercido
para a formação da personalidade dos filhos, a ponto de lhes dar segurança
afetiva, social e exemplar educação deles, juntamente com a esposa. Isso é um
dado da natureza da família, que, bem desenvolvida, coloca as bases da formação
do caráter e da sustentabilidade do equilíbrio humano-afetivo de todos na
família. Quando a paternidade é bem exercida, temos chance de boa imitação e
orientação de filhos saudáveis.
O rosto paterno de Deus se mostra aos filhos que
somos, de modo amoroso e compassivo, a ponto de termos nele a segurança total
de vida bem encaminhada e de felicidade plena para todos. Ele nos criou para
sermos sua imagem e semelhança. Nosso esforço para seguir suas instruções e
também o imitarmos para amar e construir a vida de convivência humana, leva-nos
a desenvolver muitas virtudes. Dentre elas se destacam a compaixão, a
misericórdia, a promoção da justiça e do bem comum. Com isso seremos
recompensados já aqui na terra, e, depois, com o prêmio eterno. Nosso desafio é
aceitar a paternidade divina com correspondência ao amor de Deus.
Quando realmente fazemos a experiência de intimidade
do amor divino, tornamo-nos pessoas que também mostram a face amorosa de Deus
para o semelhante. Os outros nos vêem como pessoas do bem, com colaboração para
um convívio de promoção do semelhante, a partir de iniciativas de inclusão
social, do interesse por ajudar quem é mais carente social, econômica e
espiritualmente. Desta forma, comportamo-nos como gente altruísta e de
colaboração com a promoção humana, com o serviço ao bem comum e solidária com a
causa dos mais fragilizados, como o próprio Deus é misericordioso conosco, qual
pai do filho pródigo.
Na conversa com Abraão Deus prometeu-lhe não
destruir as cidades de Sodoma e Gomorra se encontrasse nelas ao menos dez
pessoas de bem. Mas só encontrou o sobrinho dele, Lot, com a mulher Sara (Cf.
Gênesis 18,20-32). Deus quer nosso bem e que nos salvemos da vida sem sentido e
tenhamos depois a recompensa. Mas precisamos fazer da cidade terrestre um
convívio conforme o projeto divino. Ele a todo momento nos adverte, em nossa
consciência, através de pessoas de boa consciência, de sua Palavra e de sua
Igreja, a assumirmos os valores inerentes às leis próprias da natureza e os
revelados por seu Filho. Ele nos mostra a face do Pai.
O que em nós ainda não se amoldar com o projeto do
Pai, é sepultado e mudado pelo batismo, que nos faz limpos espiritualmente e
nos torna parecidos com Ele para vivermos a vida convertida para o amor (Cf.
Colossenses 2,112-14). Somos santificados por Ele, que é santo e nos faz
inserir em seu Reino. Assim, superamos a tentação de vivermos somente pensando
em nós egoisticamente, com as consequências de pecado e iniquidade. Somos
convertidos para uma vida santificada e de promoção do bem de todos, conforme o
próprio Jesus nos ensina no “Pai nosso” (Cf. Lucas 11,1-13).