A misericórdia com as criaturas
O
Ano Jubilar da Misericórdia deve inspirar nossos corações para a acolhida terna
e amorosa das criaturas que o Bom Pai nos entregou para nosso regozijo e
cuidado. Uma conhecida tela pictórica do famoso Bartolomé Esteban Murilo
(1617-1682), do barroco espanhol do século XVII, retrata o encontro do filho
pródigo com o Pai, mostrando entre os dois personagens da parábola um
cachorrinho com o rabinho abanando.
Esta cena dá um tempero de singeleza e vero similitude a
narrativa, pois, quem mais que um cachorrinho se alegra espontaneamente e
incondicionalmente com a chegada do seu dono, sem levar em conta o cheiro, as
roupas e o descuido da sua pessoa. Sempre somos bem vindos, e teremos uma festa
grátis celebrada por nossos irmãos cachorros que como outras criaturas muito
revelam a misericórdia e ternura do Pai.
Não é por acaso que eles se tornaram assistentes na terapia que
reabilita a muitas crianças autistas e com problemas neurológicos. A
equinoterapia cada vez mais desenvolvida com pacientes portadores de diversos
síndromes,mostra as possibilidades curativas destes seres amorosos. Mais, já
foi proposto como medida estratégica para implantar a cultura de paz nas
escolas, e diminuir a agressividade e a falta de empatia, a adoção e o cuidado
de um animal doméstico.
O contrário também é verdadeiro, um sociopata e um serial killer
iniciam suas trágicas atividades infringindo dor e sofrimento aos animais.
Despertemos o Noé bíblico que existe dentro de nós, defendendo a aliança da
vida e da integridade do planeta em cada uma das suas criaturas, porque cuidar
da Casa Comum é acolher e abrigar a todos estes irmãos/ãs.
É importante afirmar que quem, mais compreende o valor desta
amizade natural com as criaturas, são nossos irmãos mais pobres, uma vez que
eles mais que ninguém apreciam a lealdade, o altruísmo, a companhia permanente
e não raro a própria vida oferecida em defesa de seus donos e amigos. O nosso
mundo é mais belo e mais fascinante com a presença alegre e palpitante, de
todas as espécies, porque cada uma tem sua razão de ser e configura um sorriso
do Pai que nos ama. Deus seja louvado!
Por Dom Roberto Francisco Ferreria Paz – Bispo de Campos (RJ)