Igreja no Brasil na acolhida aos migrantes venezuelanos
A Igreja no Brasil tem
buscado dar uma resposta à urgente crise humanitária que se instalou desde 2017
em Roraima, com a chegada de milhares de migrantes venezuelanos às cidades de
Pacaraima e Boa Vista. As ações para socorrer nas necessidades mais urgentes
foram o início de uma série de iniciativas voltadas para dar dignidade e novas
oportunidades de vida para aqueles que fogem da desafiadora conjuntura
sociopolítica da Venezuela.
O projeto Caminhos de Solidariedade é a materialização das
forças da Igreja na atenção aos irmãos venezuelanos. Com o apoio do Fundo
Nacional de Solidariedade – o gesto concreto da Campanha da Fraternidade da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – o projeto está organizado em
três eixos: articulação conjunta com a Igreja na Venezuela, Integração e meios
de vida.
São as entidades à frente do projeto a diocese de Roraima, por
meio da Caritas diocesana, a CNBB, a Cáritas Brasileira, o Serviço Pastoral do
Migrante (SPM), Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Serviço
Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR), além de outras entidades.
O Plano Nacional Caminhos de Solidariedade: Brasil &
Venezuela é um eixo central que necessita do apoio conjunto de toda a Igreja no
Brasil. A iniciativa tem como objetivo contribuir para que a acolhida e as
ações de integração sejam fortalecidas para atendimento digno aos migrantes, em
Roraima e nos demais estados do Brasil.
A proposta conta com o apoio de dioceses, paróquias,
congregações religiosas e famílias que queiram acolher os migrantes
venezuelanos a fim de possibilitar a reconstrução de suas vidas.
“Sentimos a necessidade de acolher aqui em Boa Vista e demais
cidades de nosso estado, mas também de contar com a ajuda de outras cidades,
outras dioceses para que realmente o povo venezuelano seja integrado e possa
ter mais vida, esperança e dignidade, pois são novos irmãos habitando entre
nós”, motiva o bispo de Roraima, dom Mário Antônio da Silva.
Dioceses do Paraná, da Paraíba e de Sergipe já acolheram
migrantes venezuelanos por meio do projeto Caminhos de Solidariedade. Também
foram acolhidas famílias no Paraná, no Distrito Federal e em São Paulo, por
meio do programa de integração da Cáritas Brasileira, o projeto Pana.
Imigrantes venezuelanos: acolher, proteger,
promover e integrar
Seguindo a ideia e chamado do papa Francisco para novo olhar
diante da realidade da migração, a e Equipe Missionária Itinerante do Instituto
Missões Consolata (IMC), formada pelos padres Luiz Carlos Emer, Jaime Carlos
Patias e Manolo Loro, visitou desde janeiro o estado de Roraima. Ali,
participaram de atividades, buscaram atendimento às pessoas mais vulneráveis em
situação de rua e aos indígenas Warao e também produziram uma matéria contando
histórias de migrantes venezuelanos, que destacamos abaixo:
“Queremos que nos apoiem, que nos deem motivo para seguir
adiante pois sabemos que um dia as coisas vão mudar”
A escalada da crise na Venezuela obriga a população a abandonar
o país em busca de sobrevivência. Estima-se que mais de 3 milhões já migraram
para o exterior. Em Roraima, nas cidades de Pacaraima e Boa Vista, milhares de
migrantes se encontram em condições extremamente precárias. A falta de
infraestrutura para abrigar a demanda de refúgio cria uma tensão social
preocupante.
Juan Carlo Olivero chegou com três primos e dois amigos. Eles
percorreram a pé o trajeto de 215 quilômetros entre Pacaraima e Boa Vista, mas
não conseguiram abrigo. À noite dormem em uma rua próxima à estação rodoviária
onde disputam comida e um pedaço de calçada com centenas de paisanos nas mesmas
condições. “É triste ligar para os nossos filhos que ficaram com a mãe na
Venezuela e ouvir que hoje não comeram nada”, diz Juan Carlo. “Queremos que nos
apoiem, que nos deem motivo para seguir adiante pois sabemos que um dia as coisas
vão mudar”, comenta ele com esperança.
William Hernandez deixou para traz a esposa com cinco filhos e,
a exemplo de milhares de venezuelanos, veio em busca de trabalho e comida. Faz
15 dias que chegou, mas não conseguiu nada. “Queria que alguém me ajudasse por
que estamos bem tramados”.
Entre os imigrantes se encontram vários profissionais
qualificados, a exemplo da médica Fiorella Blanco. Encontramos pedreiros,
mecânicos, professores, advogados, policias, padeiros, entre outros.
Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) apontam que mais de 30 mil venezuelanos estão em Roraima, mas apenas
cerca de 6 mil estão nos 13 abrigos montados com verbas do Governo Federal e
construídos pelo Exército com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados (ACNUR). Um bom número está em casas alugadas ou quartos que
logo ficam lotados. Sem auxílio, fica difícil pagar aluguel que custa entre R$
300 e R$ 500. Mas o que impressiona é a quantidade de gente dormindo nas ruas e
praças. Durante o dia os cruzamentos e semáforos ficam cheios de ambulantes
tentando vender qualquer coisa ou simplesmente ganhar um dinheirinho.
O governo brasileiro concede refúgio, mas as ações de acolhida
deveriam garantir também proteção social, saúde, educação, alimentação e
segurança para todos. Uma das ações para desafogar Boa Vista é a interiorização
de venezuelanos em outros estados. Neste sábado, 2 de fevereiro, um grupo de 99
imigrantes viajou com um voo fretado pela Organização Internacional para as Migrações
(OIM) rumo a Dourados (MS) onde vão trabalhar em uma indústria de alimentos.
Dom Mário Antônio, destaca a importância da integração dos
imigrantes: “A realidade da migração Venezuela-Brasil continua neste ano de
2019. As tensões políticas e sociais da Venezuela têm feito com que continue a
migração forçada. E muitos chegam aqui em Roraima com fome e necessidade de
tratamento médico. Também chegam com esperança de uma nova vida, de conseguir
um trabalho e se integrar em nossa sociedade local.
Lançado em outubro de 2018, o programa Caminhos de Solidariedade
já beneficiou mais de 60 pessoas. No dia 31 de janeiro, um grupo de 17
venezuelanos partiu de Boa Vista rumo à Paraíba. Em João Pessoa eles foram
acolhidos pela arquidiocese da Paraíba e o Serviço Pastoral do Migrante do
Nordeste e possivelmente serão inseridos no trabalho.
A gerente de Projetos na Caritas Diocesana, Gilmara Fernandes vê
a necessidade de dar visibilidade à ação. Ela explica que os eixos consistem em
uma Missão entre a Igreja no Brasil e na Venezuela “para estreitar laços com a
Igreja na Venezuela e pensar ações de acolhimento e informação”; o eixo de
interiorização é realizado através do apoio do FNS para fazer o Plano Nacional
de Integração, com cadastros, recebimento de apoios e a campanha de
sensibilização, cuja articulação é feita com vários parceiros. Há ainda a
“Interiorização local” por meio do eixo meios de vida: “a caritas vai apoiar
famílias e migrantes com ações de geração de renda”.
A falta de emprego, a fome, a insegurança, as enfermidades são
para os migrantes um teste de sobrevivência. E em uma cidade de 500 mil
habitantes com poucas oportunidades no mercado de trabalho e acesso aos
serviços públicos de saúde, transportes e educação, os migrantes logo são
vistos como um problema. Infelizmente diante da crise humanitária surgem
atitudes de xenofobia. Este cenário não permite ver o lado positivo do
fenômeno. Quanta riqueza os migrantes trazem quando chegam aos nossos países?
Quantas habilidades, novidades e conhecimentos!
Mas em contrapartida tem muita gente que ajuda e é solidária.
Famílias que deixam morar de favor, outras que cedem um espaço no quintal, dão
trabalho e alimentação. As pastorais da Diocese, as paróquias e comunidades, as
congregações religiosas e movimentos com centenas de voluntários, as igrejas
abrem as portas e o coração.
Na porta da Casa das Missionárias da Consolata todas as manhãs
se forma uma fila que pode chegar a 500 pessoas para receber um pão com café.
Mobilização nas dioceses
As dioceses
interessadas em acolher imigrantes por meio do projeto Caminhos da
Solidariedade podem fazer o cadastro no site www.caminhosdesolidariedade.org.br
O site contém mais informações e foi criado para ajudar o
acolhimento dos imigrantes nas dioceses de todo o Brasil.
Com informações da Equipe Missionária Itinerante do Instituto
Missões Consolata (IMC)
Via CNBB