Papa: banir os nossos sentimentos de ódio, vingança e rancor
O
Papa Francisco visitou o Memorial Ground Zero, em Nova Iorque, nesta
sexta-feira (25/09), onde houve o Encontro Ecumênico e Inter-religioso.
“Vários sentimentos e emoções despertam em mim a presença aqui no
Ground Zero, onde milhares de vidas foram arrancadas num ato insensato de
destruição. Aqui, a dor é palpável. A água, que vemos correr para este centro
vazio, lembra-nos todas aquelas vidas que estavam sob o poder daqueles que
creem que a destruição seja o único modo de resolver os conflitos. É o grito
silencioso de quantos sofreram na sua carne a lógica da violência, do ódio, da
vingança”, disse o pontífice.
“Uma lógica, disse o Papa, que só pode produzir angústia,
sofrimento, destruição e lágrimas. A água que desce é símbolo também das nossas
lágrimas; lágrimas pela destruição de ontem, que se unem às lágrimas por tantas
destruições de hoje. Este é um lugar onde choramos; choramos a angústia
provocada por nos sentirmos impotentes perante a injustiça, perante o
fratricídio, perante a incapacidade de resolver as nossas diferenças
dialogando. Neste lugar choramos pela perda injusta e gratuita de inocentes,
por não poder encontrar soluções para o bem comum. É água que nos recorda o
pranto de ontem e o pranto de hoje.”
Angústia
O Santo Padre disse que minutos antes tinha se encontrado com
algumas famílias dos primeiros socorristas caídos em serviço. “No encontro,
pude constatar uma vez mais como a destruição nunca é impessoal, abstrata ou
apenas de coisas; mas antes de tudo tem um rosto e uma história, é concreta,
tem nomes. Nos familiares, pode-se ver o rosto da angústia; uma angústia que
nos deixa atônitos e brada ao céu. Mas eles, por sua vez, souberam mostrar-me a
outra face deste atentado, a outra face da sua angústia: a força do amor e da
recordação. Uma recordação que não nos deixa vazios. Os nomes de tantas pessoas
queridas encontram-se escritos aqui, onde estavam as bases das torres; e,
assim, podemos vê-los, tocá-los e nunca mais esquecê-los”, disse Francisco.
“Aqui, no meio duma angústia lancinante, podemos palpar a bondade
heroica de que também é capaz o ser humano, a força escondida a que sempre
devemos recorrer”, disse o Papa acrescentando:
“No momento de maior angústia, sofrimento, fostes testemunhas dos
maiores atos de dedicação e de ajuda. Mãos estendidas, vidas oferecidas. Numa
metrópole que pode parecer impessoal, anônima, de grandes solidões, fostes
capazes de mostrar a poderosa solidariedade da ajuda mútua, do amor e do
sacrifício pessoal. Naquele momento, não era uma questão de sangue, de origem,
de bairro, de religião ou de opção política; era questão de solidariedade, de
emergência, de fraternidade. Era questão de humanidade. Os bombeiros de Nova
Iorque entraram nas torres que estavam a ruir sem dar muita atenção à sua
própria vida. Muitos caíram em serviço e, com o seu sacrifício, salvaram a vida
de muitos outros.”
Vida
O Santo Padre disse que “este lugar de morte transforma-se também
num lugar de vida, de vidas salvas, numa canção que nos leva a afirmar que a vida
está destinada sempre a triunfar sobre os profetas da destruição, sobre a
morte, que o bem prevalece sempre sobre o mal, que a reconciliação e a unidade
sairão vencedores sobre o ódio e a divisão”.
“Enche-me de esperança, neste lugar de angústia e recordação, a
oportunidade de me associar aos líderes que representam as numerosas religiões
que enriquecem a vida desta cidade. Espero que a nossa presença aqui seja um
sinal vigoroso das nossas vontades de compartilhar e reiterar o desejo de
sermos forças de reconciliação, forças de paz e justiça nesta comunidade e em
todo o mundo. Apesar das diferenças, das discrepâncias, é possível viver num
mundo de paz. Perante qualquer tentativa de uniformizar, é possível e
necessário que nos reunamos, das diferentes línguas, culturas, religiões, para
dar voz a tudo aquilo que o quer impedir. Juntos, hoje, somos convidados a
dizer «não» a qualquer tentativa de uniformização e «sim» a uma diferença
acolhida e reconciliada.”
Banir
o ódio
O pontífice disse ainda que “com tal finalidade, precisamos banir
os nossos sentimentos de ódio, vingança, rancor. Mas sabemos que isto só é
possível como dom do Céu. Aqui, neste lugar da memória, proponho a cada um de
vós que faça, à sua maneira, mas juntos, um momento de silêncio e oração.
Peçamos ao Céu o dom de nos comprometermos pela causa da paz. Paz nas nossas
casas, nas nossas famílias, nas nossas escolas, nas nossas comunidades. Paz
naqueles lugares onde a guerra parece não ter fim. Paz naqueles rostos que nada
mais conheceram senão angústia. Paz neste vasto mundo que Deus nos deu como
casa de todos e para todos. Somente, paz”.
“Assim, a vida de nossos entes queridos não será uma vida que vai
acabar no esquecimento, mas estará presente todas as vezes que lutarmos por ser
profetas de reconstrução, profetas de reconciliação, profetas de paz”, concluiu
o Papa Francisco.
Fonte: noticiascatolicas.com.br