Novo Beato brasileiro, Pe. Victor era uma “arca de caridade”
Forte e humilde ao mesmo tempo. Com essas palavras, o prefeito da
Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, ressaltou as duas
virtudes que se sobressaem na vida do Pe. Francisco de Paula Victor, o
sacerdote mineiro afrodescendente que este sábado (14/11) foi beatificado em
Três Pontas, Minas Gerais.
Tendo vivido entre os anos 1827 e 1905, Pe. Victor tornou-se o primeiro
padre ex-escravo do Brasil.
Presidindo o rito, como representante do Papa Francisco – reporta o
jornal vaticano “L’Osservatore Romano” –, o Cardeal Amato recordou que alguns
com desprezo chamavam-no de “pretinho e não lhe poupavam humilhações pelo fato
de ser de descendência africana”.
Efetivamente, “tinham preconceitos raciais contra ele. Mas foram
sucessivamente conquistados pela sua modéstia, bondade e simpatia”.
O purpurado traçou algumas característica da personalidade do Pe.
Victor, que era “de ânimo nobre. Não se deixou envolver pela mentalidade
elitista dos sacerdotes, mas cultivou a virtude da humildade e da simplicidade”.
Foi um pároco generoso e dinâmico, ressaltou o prefeito da Congregação
das Causas dos Santos, recordando que “assegurava sempre a santa missa,
celebrada no domingo com grande solenidade e com a participação de notáveis
pregadores”.
No entanto, Pe. Victor “jamais subiu ao púlpito, mas foi muito ativo na
catequese e na administração dos sacramentos”. O mês em honra a Nossa Senhora
foi introduzido por ele.
Pe. Victor percorreu a cavalo “as áreas rurais para levar conforto
espiritual aos que se encontravam nas regiões mais remotas”.
Também as cifras evidenciam essa sua intensa atividade pastoral: entre
1852 e 1905, ano da sua morte, administrou o sacramento do Batismo a 8.790
recém-nascidos de brancos e a 383 filhos de escravos.
O Cardeal Amato frisou que todos reconheciam nele “um homem de Deus,
repleto dos dons do Espírito Santo. Seu zelo apostólico não conhecia limites”.
O novo beato foi particularmente atento em favorecer a educação sobretudo aos
jovens menos favorecidos. Para tal fundou uma escola gratuita em sua paróquia.
“Era generoso e dava aos necessitados os presentes e as ofertas que
recebia. Beneficiava inclusive aqueles que no início o havia desprezado”, disse
o purpurado.
Por isso, seus paroquianos, cerca de vinte anos após sua morte,
“colocaram uma lápide em sua homenagem intitulada ao “Anjo Tutelar” dos três
pontanos, com a escrita: “Sua vida foi um Evangelho. Sua memória, a consagração
eterna de um exemplo vivo. Homenagem ao valor e à virtude”.
Quando morreu, um jornalista escreveu que Pe. Victor era “uma arca de
caridade e a sua vida foi um faixo de luz, porque ensinava aos ricos a ser
misericordiosos e aos pobres a ser pacientes “, recordou o cardeal prefeito.
Morreu muito pobre: na realidade, concluiu o purpurado, ele “nasceu para
o Evangelho e viveu para o povo”.
A Igreja no Brasil celebrará sua festa litúrgica em 23 de setembro.
Fonte: noticiascatolicas.com.br